Hah alguns anos eu era capaz de gritar se alguém viesse com um papo os homens são assim, as mulheres, assado. (é, naquela época eu gritava. Não acontece mais. E nas rarissimas vezes em que acontece, eu sinto muita raiva do idiota que atiçou tanto e disse tanta besteira com cara de dizer a verdade que me fez recair. A ultima vez que gritei foi hah uns 3 anos, no Circo Voador -que na França é que eu não grito mesmo, claro. Eu estava meio bêbada, provavelmente, o que deve ter ajudado a tarefa do infeliz provocador. Mas eu tenho implicância dele até hoje.) Eu simplesmente não aceitava essa idéia das diferenças de gênero, além das obvias, obviamente (pênis e vagina). E tinha um problema sério com tentativas de generalização. E não conhecia nem homem nem mulher, além do meu pai e da minha mãe. Eu era uma menina e os meus namorados (quando chegou a hora dos namorados) eram meninos. Além de tudo, a gente morava bem separado. E principalmente eu era jovem, idealista e ignorante.
Tudo mudou. Depois de muito esforço emocional e depois de ser bombardeada por evidências, eu aceitei a Diferença no meu coração. Não sei se é soh e prioritariamente genético, se é cultural, se é ilusão de otica. Mas o homem tem mais que soh cabelo no queixo e um peito cabeludo. E a mulher também.
O interessante é que aceitar as diferenças me fez gostar ainda mais dos homens mas também e principalmente me apaixonar pelo universo feminino. Eu não tinha muito saco nem pra universo feminino (que não existia antes de eu aceitar que homem e mulher são diferentes) e nem pra mulher. As unicas mulheres na minha vida eram as minhas melhores amigas. O resto, amigo, conhecido, colega, eram homens. E agora não. Tenho buscado entrar nesse outro mundo onde nem todo mundo gosta de futebol mas onde eu me identifico e reconheço e me redescubro. E não, não é um universo rosa, apesar da doçura (muito chocolate nessa hora). É um universo de força, de intuição, de vontade de sobreviver. é sinuoso,tem muito mais curvas que o mundo de bola na trave dos homens. E as vezes histérico e chato, mas maternal, e vai além das compras (apesar de sim, é verdade, toda mulher gosta de fazer compras).
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E quanto mais eu aceito e adoro as mulheres, menos eu compreendo um casamento entre mulheres homossexuais. Não minha gente, é mulher demais em convivio quotidiano. Tudo bem gostar de sexo entre mulheres. Gosto é assim, cada um tem o seu. Mas casar? Eu não entendo. Um dia estava jogando conversa fora com uma grande amiga, casada com uma mulher. Falavamos de engordar e celulite (não, mulher não fala soh de engordar, celulite e moda, mas às vezes acontece. Na verdade, mulher fala muito mais de pau do que dessas outras coisas. Com essa amiga em parituclar, a gente fala pouco de pau especificamente, porque, digamos, ela tem pouco contato com o assunto). E aih ela comenta «Eu engordo na barriga, a fulana (a esposa) engorda na bunda». Essa simples frase fez explodir uma bomba de compreensão na minha cabeça. Foi lah, naquele instante que eu percebi pela primeira vez o horror de um casamento entre duas mulheres. é muita bunda, é muita calcinha, é muita menstruação, é muito chocolate, é muita mulher mulher mulher e suas forças incontrolaveis da natureza numa mesma casa.